Câmara entrega título de cidadão mogiano a Luiz França

A Câmara Municipal de Mogi das Cruzes entregou nesta sexta-feira (16/09/2011) o título de cidadão mogiano a Luiz França de Melo pelos relevantes serviços prestados ao município nas áreas de cultura e lazer. Um dos maiores expoentes do carnaval mogiano, ele a única pessoa a receber duas vezes o título de Cidadão do Samba de Mogi além de ter fundado e presidido diversas escolas de samba e blocos na cidade.

“Quem é cidadão do samba por duas vezes e fez tanto pelo carnaval de nossa cidade não poderia deixar de receber este título de Cidadão Mogiano. Nós é que nos sentimos homenageados pelo senhor ter escolhido Mogi das Cruzes para abrilhantar esta cidade. Nada poderia trazer mais brilho à sua carreira e sua vida que é exemplo de sinceridade e humildade”, destacou o vice-presidente da Câmara, Protássio Nogueira (PSD), autor da homenagem, que foi aprovada por unanimidade pelos vereadores.

O diretor da Secretaria Municipal de Cultura, Nelson Albissu, também salientou a grande contribuição do homenageado para o setor: “Há mais de vinte anos tenho uma coluna no jornal O Diário de Mogi e em todo este período apenas sempre foram retratadas nas crônicas personagens fictícios. O único mogiano real que apareceu neste espaço foi o senhor Luiz França, nossa grande cidadão do samba. Esta é uma homenagem mais do que justa”.

Em seu discurso, o homenageado contou um pouco de sua trajetória e do seu carinho pela cidade que o acolheu: “Minha vida é uma longa estrada com muitos obstáculos, desde o meu nascimento em Itaporanga, na bela Paraíba, sem ter conhecido meus pais. Passei por vários empregos, sempre lutando. Aqui nesta terra abençoada criei meus filhos. Pelo forte laço com a cidade já me sentia mogiano, agora sou um cidadão mogiano legítimo. Só posso dizer muito obrigado a minha querida Mogi, ao seu povo trabalhador e honrado e aos nobres vereadores por esta outorga”.

História
Luiz França de Melo nasceu no dia 4 de junho de 1928 na cidade de Itaporanga, no Vale do Paincó, alto sertão da Paraíba. Filho de família humilde, ele não teve irmãos e não chegou a conhecer os pais. Sua mãe, Maria Vitalina de Melo, faleceu seis meses após seu nascimento, mas o entregou a uma família amiga que o adotou.

Acolhido pelo casal Marcelino e Diolinda Diniz, teve quatro irmãos adotivos Severino, Águida, João e Maria e lá viveu até os 23 anos de idade. Com poucos estudos (somente o primário), logo aos sete anos começou a trabalhar na roça. Era muito trabalho e pouco tempo para a diversão e o estudo, porém uma de suas grandes paixões nasceu ali: ainda na infância, aprendeu a pular a janela de casa para assistir os desfiles do carnaval de rua de Itaporanga.

Ainda em Itaporanga, casa-se em 1951 com Sebastiana Arli de Souza Melo, com quem completou 60 anos de matrimônio em 2011. Em 1955, porém, decide deixar a pequena cidade natal e partir, como milhares de pessoas, para tentar uma vida melhor em São Paulo, ao lado da esposa e dos filhos Geraldo e Raimunda.

As poucas economias que possuía se esgotaram durante os 13 dias de viagem na caçamba de uma caminhonete da Paraíba a São Paulo. Na capital paulista, conseguiu emprego em uma fundição no bairro da Lapa.

Em 1957, chega enfim a Mogi das Cruzes, desta vez a bordo da saudosa Maria Fumaça, onde começou a trabalhar na Elgin Máquinas no bairro do São João. Em 1960, consegue com muito trabalho comprar um terreno e construir sua casa no Mogi Moderno, onde até hoje vive com a família e onde nasceram os filhos Rita de Cássia, Laudêmio, Deolinda e Isabel Cristina, além dos netos Ana Carolina, David Luiz, Régis, Luan e Luana.

Em Mogi a paixão pelo carnaval novamente se aflorou. Já em 1957 fez seu primeiro desfile na cidade, pela escola do São João Futebol Clube. No ano seguinte saiu no Bloco Estrela do Sul, do bairro dos Remédios e em 1960 funda sua primeira agremiação, a Escola de Samba Associação Atlética Comercial, que tinha sede na antiga área do clube, onde hoje funciona o prédio do INSS, no Shangai. Sem material adequado, eles mesmos curtiam o couro de cabritos e gatos para fazer os instrumentos usados nos desfiles. Também era diretor do clube e participava da organização das partidas e participação nos campeonatos.

Em 1973 funda a Mocidade Alegre Comercialina, com sede no Mogilar. A agremiação conseguiu romper barreiras e trazer para a passarela do samba a elite da sociedade mogiana, sendo campeã em 1975, ano de seu segundo desfile. Na época as apresentações tinham início na praça dos Imigrantres, percorria a avenida Voluntário Fernando Pinheiro Franco e tinham sua dispersão no Largo do Rosário, onde havia uma bela fonte luminosa.

Em 1977, fundou o grêmio dos trabalhadores da Cromação Nikko, empresa onde atuava, e deu início a mais um time de futebol e mais uma escola de samba: a Unidos da Nikko, que sagrou-se campeã em 1979. Em 1980, contudo, problemas de saúde o obrigaram a deixar a empresa e as atividades como carnavalesco. Mas jamais deixou de acompanhar e participar do carnaval.

Em 1983 começou a trabalhar com Jorge Nakayama na Livraria Patão, atuação que até hoje lhe rende o título de um dos jornaleiros mais conhecidos e queridos de Mogi. No ano de 1988, o trabalho e dedicação ao carnaval foi reconhecido com a mais importante homenagem conferida pela Associação Mogiana das Escolas de Samba (Amesb), o título de Cidadão do Samba Mogiano. Mas os responsáveis pelo carnaval mogiano consideraram que nem mesmo a homenagem era suficiente para demonstrar a importância de Luiz França para o carnaval mogiano tanto que a associação voltou a homenageá-lo em 2008 com a mesma condecoração.

Em 2010, uma nova emocionante homenagem: a Escola de Samba “Unidos do Sales”, do Jardim Camila, levou a história de França para a avenida, com o enredo “Samba no pé, sertão no sangue e Mogi no Coração. Luiz França, uma história de luta”.